Cidadania in foco

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Educando para a diversidade, sua senhoria o negro!

por Sílvio Aparecido Casagrande




Para começo de conversa, algumas considerações:
Taís Araújo, protagonista da novela da globo, em reportagem para a Isto É Gente de fevereiro de 2004, diz querer ser referência para crianças e adolescentes de sua raça e faz declarações bombásticas que colocam em evidência a complexidade da questão étnico racial no Brasil:
“Meu ídolo era a Xuxa, mas nunca poderia ter o cabelo igual ao dela nem o olho azul. Ficaria feliz se pudesse gerar essa identificação nas meninas e meninos negros.
Nos Estados Unidos, se o anunciante não é um negro consumindo seu produto, os negros não compram. “A gente tinha que começar a ter uma atitude assim.”
Há que se considerar na análise da gênese da questão discriminatória do Brasil a falta de inserção social do negro após a abolição da escravatura.
Os negros passam por um período de amadurecimento na conquista de sua cidadania. Para isso alguns mecanismos legais, retardatários é verdade, mas sempre em tempo, como o PCN”s que orientam sobre a promoção da pluralidade cultural como tema transversal, e o passo maior que foi dado com a Lei 10.639/2003 que valoriza a cultura afro descendente combatendo a superioridade da cultura européia.
O negro tem se negado inconscientemente, ou, como forma de “reagir não reagindo”, à questão da discriminação ignorando que os piores índices de escolaridade, de acesso aos benefícios sociais e de renda ficam com os que têm a cor da pele mais escura.
Quando se leva em discussão a questão da pele mais escura como diferencial para justificar a discriminação-manifestação explícita de uma ideia “torta” que lhe foi incutida pelo inconsciente coletivo que se manifesta e bombardeia o tempo todo -, ele está refletindo o que tem aprendido desde a gênese da sociedade que tem como pilares o caráter patriarcal, machista, homófobo e branco.
A Gênese da sociedade brasileira se deu em meio a uma sociedade marcada:
1-pelo patriarcalismo onde o personagem central e símbolo de status é o homem branco, rico e poderoso;
2- pela escravidão onde se deu a origem do estereótipo de que os indivíduos de pele mais escura são menos merecedores de qualquer benefício da rede social e;
3- do latifúndio, que nega acesso dos menos providos de recursos aos benefícios da terra.
A escola sempre foi reflexo de uma sociedade construída com base na exclusão social que legitima e reproduz desigualdades.
Nesse rol de problemas que permaneceram durante séculos nas entranhas de nossa sociedade sempre marcada pelo preconceito, desigualdade social, fundados em estereótipos solidificados e impregnados no inconsciente coletivo e reproduzidos no seio de uma escola elitista e excludente como foi desde o início no Brasil. Mesmo agora que, teoricamente é democrática, não atende satisfatoriamente os requisitos de qualidade e tratamento verdadeiramente cidadão aos seus alunos. A escola continua sendo um aparelho reprodutor das ideologias e desigualdades que interessam a um grupo da elite, ela perpetua os estereótipos que bombardeiam olhos, ouvidos e mentes através dos recursos midiáticos de manipulação como rádio, televisão e jornais que na maioria estão nas mãos dos políticos e elite.
Vigotsky (1896-1934, defende a teoria histórico-social para o desenvolvimento do indivíduo, ele diz que o indivíduo é resultado de um processo sócio-histórico sendo assim o indivíduo incorpora, aprende e reproduz o que aprendeu.
É preciso que a escola se conscientize e se prepare para lidar com esse público alvo que ela ainda não conseguiu descobrir a que veio e solidifique um trabalho sério e competente para que a escola se torne de fato democrática e inclusiva e que ofereça educação de qualidade respeitando a diversidade.
Para se trabalhar a cultura negra na sala de aula, segundo Roberta Bencine em matéria à Revista Nova Escola – nov. de 2004, p. 50, deve se seguir alguns caminhos:
– Aprofundar-se nas causas e conseqüências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão;
- Enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro;
- A questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, dos europeus e de outros povos;
- Reconhecer a existência do racismo no Brasil e a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana.
Bibliografia:
ARAÚJO, Luís Edmundo e FURTADO, Jonas. Isto É Gente, São Paulo, ano V, no 236, p.29 – 33, fev. 2004.
BENCINI, Roberta. Educação não tem cor. Nova Escola, São Paulo, ano XIX, nos 177, p. 47- 51, nov. 2004.
VIGOTSKY, Lev. Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação, Petrópolis: Vozes, 2007.