Cidadania in foco

sábado, 10 de outubro de 2015

Gincana 2015 EE Anísio José Moreira


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Eletiva Cultura Norte-americana no Brasil - Escola Anísio


Como a cultura americana influencia no nosso dia a dia



Influência dos Estados Unidos no Brasil



A influência dos Estados Unidos no Brasil



Vídeos do Yotube:











quarta-feira, 15 de julho de 2015

Eletiva Educação e Cultura Brasileira da Escola de Ensino Integral Anísio José Moreira - Mirassol SP




Divulgação para a Escolha da eletiva pelos alunos:


Pesquisa sobre manifestações culturais Brasileiras



Vídeos sobre a questão da miscigenação, questão racial e sincretismo:


Ensaio (recorte):



Culminância:






Aspectos das manifestações culturais retratadas na apresentação ( imagens da internet):












Profa. Maria Angélica Mazzoni parceira dedicada e competente e Ana Lara (Colaboradora na coreografia)

domingo, 3 de maio de 2015

Espaço Agropecuário Brasileiro - Questão fundiária - Sugestão de aula na sala informática 2o Ano Ensino Médio SA 6

1o Passo: Assistir Aula 23 Currículo+ 12´28´´ Ensino Médio (5) - Geografia (5) - A produção econômica no Brasil e no mundo (5) - Vídeoaula (5) - 2ª série EM (5)
2o Passo: Os Desterrados 8´51´´





Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=DauZ-bRwEGw às 13h 40 3 Maio 2015





3o Passo: Reportagem sobre a questão fundiária e ambiental em Campos Lindos/TO 3´54´´






Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Ggrfj-M7b88 3 e Maio de 2015 ás 13h



4o Passo: Resolução ENEM 2010 QUESTÃO 1 - Estrutura Fundiária 3´18´´



Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=VnpMoBqtoEI às 13 h 45

sexta-feira, 1 de maio de 2015

10 de Maio de 2015 - Dia das Mães




Para Sempre

“Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.”

Carlos Drummond de Andrade


A origem do Dia das Mães


A mais antiga comemoração dos dias das mães é mitológica. Na Grécia antiga, a entrada da primavera era festejada em honra de Rhea, a Mãe dos Deuses.
O próximo registro está no início do século XVII, quando a Inglaterra começou a dedicar o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas. Nesse dia, as trabalhadoras tinham folga para ficar em casa com as mães. Era chamado de "Mothering Day", fato que deu origem ao "mothering cake", um bolo para as mães que tornaria o dia ainda mais festivo.
Nos Estados Unidos, as primeiras sugestões em prol da criação de uma data para a celebração das mães foi dada em 1872 pela escritora Júlia Ward Howe, autora de "O Hino de Batalha da República".
Mas foi outra americana, Ana Jarvis, no Estado da Virgínia Ocidental, que iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães. Em 1905 Ana, filha de pastores, perdeu sua mãe e entrou em grande depressão. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas tiveram a idéia de perpetuar a memória de sua mãe com uma festa. Ana quis que a festa fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas, com um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães. A idéia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
Durante três anos seguidos, Anna lutou para que fosse criado o Dia das Mães. A primeira celebração oficial aconteceu somente em 26 de abril de 1910, quando o governador de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock, incorporou o Dia das Mães ao calendário de datas comemorativas daquele estado. Rapidamente, outros estados norte-americanos aderiram à comemoração.
Finalmente, em 1914, o então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson (1913-1921), unificou a celebração em todos os estados, estabelecendo que o Dia Nacional das Mães deveria ser comemorado sempre no segundo domingo de maio. A sugestão foi da própria Anna Jarvis. Em breve tempo, mais de 40 países adotaram a data.
"Não criei o dia das mães para ter lucro"
O sonho foi realizado, mas, ironicamente, o Dia das Mães se tornou uma data triste para Anna Jarvis. A popularidade do feriado fez com que a data se tornasse uma dia lucrativo para os comerciantes,
principalmente para os que vendiam cravos brancos, flor que simboliza a maternidade. "Não criei o dia as mães para ter lucro", disse furiosa a um repórter, em 1923. Nesta mesmo ano, ela entrou com um processo para cancelar o Dia das Mães, sem sucesso.
Anna passou praticamente toda a vida lutando para que as pessoas reconhecessem a importância das mães. Na maioria das ocasiões, utilizava o próprio dinheiro para levar a causa a diante. Dizia que as pessoas não agradecem freqüentemente o amor que recebem de suas mães. "O amor de uma mãe é diariamente novo", afirmou certa vez. Anna morreu em 1948, aos 84 anos. Recebeu cartões comemorativos vindos do mundo todos, por anos seguidos, mas nunca chegou a ser mãe.
Cravos: símbolo da maternidade
Durante a primeira missa das mães, Anna enviou 500 cravos brancos, escolhidos por ela, para a igreja de Grafton. Em um telegrama para a congregação, ela declarou que todos deveriam receber a flor. As mães, em memória do dia, deveriam ganhar dois cravos. Para Anna, a brancura do cravo simbolizava pureza, fidelidade, amor, caridade e beleza. Durante os anos, Anna enviou mais de 10 mil cravos para a igreja, com o mesmo propósito. Os cravos passaram, posteriormente, a ser comercializados.
No Brasil
O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou a data no segundo domingo de maio. Em 1947, Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, determinou que essa data fizesse parte também no calendário oficial da Igreja Católica.

Texto compilado das seguintes fontes
- Pesquisa de Daniela Bertocchi Seawright para o site Terra,
http://www.terra.com.br/diadasmaes/odia.htm


Disponível em http://www.portaldafamilia.org/artigos/texto026.shtml 11 h 02/05/2015



1 de Maio - dia do Trabalho





Comemorado hoje, o Dia do Trabalho (ou Dia do Trabalhador) é uma data utilizada para celebrar as conquistas dos trabalhadores ao longo da história. Segundo conta nos registros o primeiro grande manifesto aconteceu no dia 1º de maio de 1886, na cidade de Chicago (Estados Unidos). Neste dia, milhares de trabalhadores protestaram contra as condições de trabalho e a extensa carga horária de trabalho (de 13 horas diárias na época). A greve paralisou os Estados Unidos.
Durante o período de manifestação houve confronto entre os manifestantes e a polícia. Neste embate, vários manifestantes foram mortos e a greve ficou conhecida como a Revolta de Haymarket.
O fato repercutiu pelo mundo e no dia 20 de junho de 1889, em Paris, a central sindical chamada Segunda Internacional instituiu o mesmo dia das manifestações como data máxima dos trabalhadores organizados, para, assim, lutar pelas oito horas de trabalho diário. Em 23 de abril de 1919, o Senado francês ratificou a jornada de trabalho de oito horas e proclamou o dia 1° de maio como feriado nacional.
Após a França estabelecer o Dia do Trabalho, a Rússia foi o primeiro País a adotar a data comemorativa, em 1920. No Brasil, a data foi consolidada em 1924, no governo de Artur Bernardes. Além disso, a partir do governo de Getúlio Vargas, as principais medidas de benefício ao trabalhador passaram a ser anunciadas nessa data. Em 1º de maio de 1940, o presidente Getúlio Vargas instituiu o salário mínimo, que deveria suprir as necessidades básicas de uma família (moradia, alimentação, saúde, vestuário, educação e lazer) . No ano de 1941, foi criada a Justiça do Trabalho, destinada a resolver questões judiciais relacionadas, especificamente, as relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores.
Atualmente, inúmeros países adotam o dia 1° de maio como o Dia do Trabalho, sendo considerado feriado em grande parte deles.

Disponível em http://www.jornalfolhadosul.com.br/noticia/2014/05/01/dia-do-trabalhador-uma-historia-de-lutas 10 H 01/05/2014


Dia do Trabalhador no Brasil

Com a chegada de imigrantes europeus no Brasil, as ideias de princípios e leis trabalhistas vieram junto. Em 1917 houve uma Greve geral. Com o fortalecimento da classe operaria, o dia 1º de Maio foi declarado feriado pelo presidente Artur Bernardes em 1925.
Até o início da Era Vargas (1930-1945) certos tipos de agremiação dos trabalhadores fabris eram bastante comuns, embora não constituísse um grupo político muito forte, dado a pouca industrialização do país. Esta movimentação operária tinha se caracterizado em um primeiro momento por possuir influências do anarquismo e mais tarde do comunismo, mas com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, ela foi gradativamente dissolvida e os trabalhadores urbanos passaram a ser influenciados pelo que ficou conhecido como trabalhismo.
Até então, o Dia do Trabalhador era considerado por aqueles movimentos anteriores (anarquistas e comunistas) como um momento de protesto e crítica às estruturas sócio-econômicas do país. A propaganda trabalhista de Vargas, sutilmente, transforma um dia destinado a celebrar o trabalhador no Dia do Trabalhador. Tal mudança, aparentemente superficial, alterou profundamente as atividades realizadas pelos trabalhadores a cada ano, neste dia. Até então marcado por piquetes e passeatas, o Dia do Trabalhador passou a ser comemorado com festas populares, desfiles e celebrações similares. Atualmente, esta característica foi assimilada até mesmo pelo movimento sindical: tradicionalmente a Força Sindical (uma organização que congrega sindicatos de diversas áreas, ligada a partidos como o PDT) realiza grandes shows com nomes da música popular e sorteios de casa própria. Na maioria dos países industrializados, o 1º de maio é o Dia do Trabalho. Comemorada desde o final do século XIX, a data é uma homenagem aos oito líderes trabalhistas norte-americanos que morreram enforcados em Chicago (EUA), em 1886. Eles foram presos e julgados sumariamente por dirigirem manifestações que tiveram início justamente no dia 1º de maio daquele ano. No Brasil, a data é comemorada desde 1895 e virou feriado nacional em setembro de 1925 por um decreto do presidente Artur Bernardes.
Aponta-se que o caráter massificador do Dia do Trabalhador, no Brasil, se expressa especialmente pelo costume que os governos têm de anunciar neste dia o aumento anual do salário mínimo. Outro ponto muito importante atribuído ao dia do trabalhador foi a criação da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, em 01 de maio de 1943.


Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Trabalhador 10 H 01/05/2015

quarta-feira, 22 de abril de 2015

22 de Abril - Dia do "Achamento do Brasil"


"22 de abril de 1500, data que oficialmente marca a fundação do Brasil. Neste período, os portugueses ocupam o território cercado por Pau-Brasil, riquezas naturais, belos animais e os povos originais (popularmente chamados de índios).
O 22 de abril (...) a sociedade reflete sobre o surgimento desse país, dessa nação. Somos fruto de uma "mistura", um encontro conflituoso entre três grupos étnicos (indígenas, africanos e portugueses) que solidificaram o nosso Ethos e o nosso Modus vivendi.
Quem pensa que o processo foi harmônico se engana. O colonizador (o português) aprisionou indígenas, escravizou africanos, impôs seu jeito, sua língua, sua religião, mas houve muita resistência e revolta.
Ao longo desses 509 anos foram intensos os conflitos e lutas pela libertação, pela dignidade e pela democracia na nossa nação. Confederação dos Tamoios - revolta indígena, Rio de Janeiro (1556-1567) ,Guerra dos Aimorés - índios contra luso-brasileiros, Bahia (1555-1673) Guerra dos Potiguares - índios contra luso-brasileiros, Paraíba e Rio Grande do Norte (1586-1599) , Levante dos Malês em 1835 em Salvador, Revolta de Búzios ou Conjuração Baiana de 1798, Guerra de Palmares de 1690 a 1695 na serra da Barriga, região hoje pertencente ao estado de Alagoas.
São estes e outros conflitos e lutas que demonstram que o nosso país ainda é um espaço em plena ebulição, uma atmosfera de contrastes, preconceitos, riquezas e pontencialdades.(...)"Escrito por Ivandilson Miranda Silva Seg. 20 de Abril de 2009


22 de Abril - Brasil: Invenção, achamento, conquista, descoberta ou invasão?

Os Donos da Terra

Os livros didáticos e a historiografia mais tradicional costumam assinalar que Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil em 1500. Assim o Brasil “foi descoberto em 1500.” Será?? Teria sido mesmo uma “descoberta”? Ou será que foi uma “invasão”? Com a chegada dos europeus, eles se deparam com um grupo étnico totalmente distinto.

Os Nativos

Quando Cristóvão Colombo chegou à América (1492), ele não sabia que tinha descoberto um novo continente. Acreditava que estava na Índia. Por isso chamou os habitantes de “índios”. Poucos anos depois, os europeus constataram que a América era um novo continente. Passaram a chamá-la de Índias Ocidentais. Entretanto, quando falamos em “índios”, nós já estamos cometendo uma violência. É como se a gente dissesse que todos as sociedades nativas são iguais, tudo padronizado, tal como uma única estrutura social. Quando foi inventado o “índio”, eles estavam também inventando a sua própria identidade como “europeu”, “evoluído”. Assim como os franceses e italianos são diferentes uns dos outros, também o são os povos “indígenas”. Eles são na verdade várias sociedades com culturas, organização social e aparência física bem diferentes umas das outras. Uma das formas de oprimi-los é achar que todos são idênticos. As tribos melhor descritas pelas fontes dos séculos XVI e XVII pertenciam ao Tupi, pelo fato de terem entrado em contato imediato com o europeu. Contudo, elas foram analisadas segundo a ótica de um outro povo, portador de uma cultura diversa, com valores diferentes e por isso parciais. Assim, a vida do povo Tupi não pode ser generalizada a todas as outras tribos dos demais estoques lingüísticos. A terra é o seu bem mais precioso e o espaço onde ele vive é o fator diferenciador de sua cultura. Um exemplo:


Conforme o lugar, o ameríndio se tornou um exímio caçador ou pescador, coletor, ceramista, trabalhador da pedra ou excelente construtor de embarcações. Até mesmo na construção de malocas, bem como no material empregado e na sua forma, ocorreram variações que tiveram ressonância nas atividades religiosas, na concepção de mundo, nos festejos e rituais das tribos. A própria arte da plumagem, a língua, a educação infantil ou os motivos decorativos dos objetos de cerâmica foram muito diversos.


Mas sempre temos uma pergunta em mente: De onde eles surgiram? Como chegaram na América?? Nenhum cientista sabe ao certo. Há uns 40 mil anos, vários povos vieram da Ásia e chegaram a América, atravessando o estreito de Behring para alcançar o Alasca. Há quem calcule que, em 1500, havia entre 2 milhões a 4 milhões de índios no Brasil. Comparando com Portugal que, na época só possuía 1 milhão de habitantes. Atualmente estima-se que habitam o país cerca de 260.000, o que não chega a representar 0,3% da população brasileira. Calcula-se em 180 as etnias, com mais de 100 línguas praticadas e 532 as áreas indígenas, ocupando cerca de 11% do território nacional. A maioria não ocupa mais seu habitat de origem, cerca de 74%. Dessa forma o “índio brasileiro”, como tal, não existe. Os nativos gostavam de dizer aos portugueses e jesuítas que habitavam a região apenas os Tupis (habitantes do litoral) e os Tapuias (do interior). Os Tupis dividiam-se em sete grupos rivais: potiguares, tabajaras e caetés no Nordeste; tupiniquins e tupinambás na Bahia; tamoios no Rio de Janeiro e carijós e tapes mais para o Sul. Formavam, em seu conjunto, um grande e complexo étnico-lingüístico conhecido com pelo nome de Tupi-guarani. Hoje, os cientistas costumam dividir as sociedades indígenas de acordo com os idiomas e dialetos que falam ou falavam. São basicamente três: O tronco Tupi, o tronco Arawak e o tronco Macrojê;


Como vimos, os Tupis foram os primeiros a entrar em contato com o colonizador e, apesar dos freqüentes combates, acabou sofrendo as conseqüências mais diretas: extermínio, submissão, apropriação de suas terras, destruição de seus costumes e tradições, além da fuga, o que ocasionou sucessivas migrações de suas tribos para o interior, longe do colonizador. Houve uma verdadeira “metamorfose” advinda deste primeiro contato entre as “duas humanidades”. A tão falada “aculturação” ou “perda de sua cultura” não existe! As sociedades indígenas, todavia, não se limitavam a assistir passivamente a conquista da terra pelos portugueses. Ao contrário, foram inimigos duros e terríveis, pois conheciam melhor o território, lutando ardorosamente contra seus opressores, defendendo suas terras e sua liberdade. Tais sociedades se readaptam, tem a construção de novas identidades, uma transculturação. “Não estamos diante de um povo de cultura primitiva. Não estamos diante de um povo de cultura paralela. Estamos diante de uma outra humanidade.” (Levi Strauss - século XX)


A Organização Tribal


Os nativos americanos vivam no chamado estágio paleolítico, embora tivesse adquirido algumas técnicas do neolítico, como a cerâmica, a tecelagem, a construção de embarcações, o controle rudimentar do fogo. Porém, suas atividades econômicas fundamentais resumiam-se na caça, pesca e na coleta, fazendo-o exercer, assim, um controle rudimentar sobre o maio natural em que vivia. Não conhecia a escrita, nem a roda, nem a pólvora, nem domesticava animais. Daí suas dificuldades em relação ao europeu, que era bem mais equipado. Eram panteístas. Além de adorarem vários deuses, eles adoravam também as forças da natureza (vento, chuva, relâmpago, trovão, sol...) e tinham medo dos maus espíritos.


Não podemos falar em “civilizações indígenas” ou em “impérios”. O que existiam e existem são sociedades. O domínio da natureza era exercido pelas tribos, que abrangia um certo número de unidades menores, as aldeias, distanciadas no espaço, mas unidas entre si. Todos trabalham e dividem as coisas igualmente. O cacique é escolhido pela comunidade por causa de suas qualidades pessoais. As decisões importantes são tomadas pela comunidade reunida, pelos mais velhos. São trabalhadores vigorosos. Não havia miséria e as pessoas cresciam saudáveis e belas. A cabana do índio é tão arejada que mesmo o maior calor do mundo você se sente arejado. As malocas ou ocas variam de tamanho, de acordo com o número de moradores. Assim na sociedade tribal, é a solidariedade e a coletividade entre os membros de um grupo ou mesmo de grupos locais diversos um dos pilares de sua organização social. A produção do excedente era mínima e, por conseguinte, o comércio era quase inexistente. Assim, as trocas, em número reduzido, ocorriam quando um grupo produzia o que outro grupo não possuía, ou então, quando das trocas rituais, visando estreitar os laços de amizade intertribais. O trabalho tinha uma divisão natural, ou seja, baseada na idade e no sexo.


- As Mulheres realizavam todos os serviços domésticos, cuidavam da alimentação, fabricavam as farinhas, o azeite de coco, fiavam o algodão, teciam as redes, traçavam os cestos e produziam cerâmicas. Ocupavam-se da maior parte do trabalho agrícola (plantio, semeadura, conservação e colheita) e ajudavam os homens nas pescarias e na coleta. Ainda eram elas que, quando da realização das festas tribais, faziam a depilação e a tatuagem dos homens pertencentes ao seu lar.


- Os Homens – ocupavam-se com a derrubada da mata e com a queimada. Quando a terra estava pronta, eles a entregavam as mulheres, para o plantio. Eles praticavam a caça e a pesca, fabricavam canoas, as armas, os adornos, obtinham o fogo, construção de suas cabanas, cortavam lenha. Eram responsáveis pelas expedições guerreiras e pela proteção da tribo.

- As Crianças – desde cedo eram integradas à vida da coletividade. Os meninos, aos poucos, eram treinados para a caça, pesca e luta. As meninas, para os trabalhos de casa e da lavoura.


- Os Anciãos – gozavam de grande prestígio. Pela experiência de vida acumulada, tornavam-se os detentores das tradições do grupo através das quais se renovava o culto dos antepassados.


Observação

“Até o século XVIII, o que interessava nos índios era a mão-de-obra. No século XIX, é o solo indígena o alvo principal (fronteiras econômicas abertas), ou seja, viram empecilhos. Hoje, é o subsolo. Eles são vítimas do Estado e do Exército, não podendo ocupar áreas de fronteira”. (Prof. Flávio Gomes, UFRJ) Atualmente vemos que o indígena ainda não está inserido na sociedade, que o vê caricaturado, como verdadeiros “fósseis humanos”. Ele é supostamente incorporado, sendo primeiramente dizimado e depois tutelado pelo Estado. A imagem que temos é que os índios querem sempre mais terras, quer manter a sua cultura... O indígena busca a integração, mantendo sua identidade, sua territorialidade, quer os mesmos direitos sociais. Querem uma integração não só geográfica, mas cultural.


O “Descobrimento”

A partir desta frase podemos entender um pouco mais esse longo processo histórico. Com as Grandes Navegações vemos a chegada dos europeus na América. Vemos Cristóvão Colombo e, posteriormente, Cabral no Novo Mundo. O primeiro contato entre as duas humanidades foi extremamente cordial, embora ambos tenham se mostrado cautelosos, precavidos e inseguros. Na carta do escrivão da frota da Cabral, Pero Vaz de Caminha, vemos tais traços. Contudo, esse clima festivo iria desaparecer dando lugar aos choques que inevitavelmente iria surgir, em virtude dos interesses conflitantes do português recém-chegado e dos nativos. A chegada se deu na tarde de uma quarta-feira, dia 22 de abril de 1500. A esquadra deveria chegar à Ásia meridional, contornando a África. Ela afastou-se propositadamente de sua rota e naquele dia chegou ao litoral sul do atual estado da Bahia. A nova região recebe o nome de Ilha de Vera Cruz. Verificado que não se tratava de uma ilha, o local recebe o nome de Terra de Santa Cruz. Posteriormente, por causa do pau-brasil, vegetal bastante encontrado na região, a terra passa a se chamar Brasil. “A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem”. (Pablo Neruda)

Juberto de O. Santos é professor de História, bacharel e licenciado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, lecionando atualmente em cursos pré-vestibulares e preparatórios. Disponível em http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=902 em 22 de Abril de 2015 21h50

E você descobriu esse Brasil?


21 de abril - Tiradentes



21de Abril - Tiradentes: O que é mito ou relidade?








Para repensarmos a história vale ler esse artigo:


Considerado pela Coroa Portuguesa como o cabeça da conjuração Mineira, morto por enforcamento, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, tornou-se herói nacional e uma das figuras mais polêmicas da nossa história. Muito tem-se falado dele, mas sabe-se pouco de sua vida.

O que conhecemos dele encontra-se nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira (publicado pela Imprensa Oficial, Belo Horizonte,1982) em alguns documentos. Mesmo assim, pela intensidade e pela trama em que se meteu nos últimos anos de vida, nos foi legado um envolvente material que nos permite não só polemizar, como discutir esta figura, até certo ponto enigmática de nossa história.

Portanto, para compreendermos quem foi Tiradentes e buscarmos algumas pistas de seu papel na Inconfidência Mineira, é necessário analisarmos os Autos como fonte e documentação históricas. Montados pelas autoridades portuguesas, eles representam o poder da época construindo fatos, escolhendo seus personagens e suas vítimas e mesmo protegendo determinadas figuras quando isso convinha. Desta forma, ao trabalharmos com os Autos, os utilizaremos como um documento/monumento que reflete os conflitos que marcaram uma época.

Segundo Jacques Le Goff: “O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias. No Limite, não existe um documento-verdade. Todo documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo”.(Documento/Momumento, Einaud, v.1, 1984, p.103)
Portanto, é a partir desse conceito, que devemos trabalhar com os Autos, não esquecendo que os presos encontravam-se incomunicáveis, sujeitos a toda forma de pressões psicológicas e torturas. Não é por acaso que o réu Francisco Antônio de Oliveira Lopes acusa o escrivão da Devassa, José Caetano César Manitti, de ter manipulado seu depoimento, que já chegou lavrado e que ele assinou sem nem ao menos ter lido. (Autos, v.4, p.275)

Em outro documento, conhecido como Exposição sobre a repressão e Julgamento dos réus da Inconfidência Mineira, atribuído a Francisco Gregório Pires Monteiro Bandeira, ex-Intendente de Vila Rica e amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, existe outra acusação ao escrivão Manitti: “… iludiu com promessa e insinuações; e, se algum resistia, com tratos. Dos sacerdotes, alguns foram encerrados em prisões tão escuras, úmidas, apertadas e fétida …”. (Autos, v.9, p.254)

Vejamos, então, como Tiradentes surge nos Autos, através de seus próprios depoimentos e de seus companheiros de conjuração. Nas suas três primeiras inquirições ele tanto nega o movimento como sua participação. Perguntado sobre o levante responde: “… que tal não há, que tudo é uma quimera, que ele não é pessoa, que tenha figura, nem valimento, nem riqueza, para poder persuadir um povo tão grande a semelhança asneira”. (Autos, v.9, p.254)

Assim, ele negou até a quarta inquirição quando, repentinamente e sem uma explicação plausível, confessa ser o cabeça da conjuração, assumindo toda a responsabilidade pela tentativa de levante em Minas Gerais.

Foi a partir desta resposta que grande parte dos historiadores começam a forjar sua trajetória de herói: “…que ele até agora negou por querer encobrir a sua culpa, e não querer perder ninguém; porém que a vista das fortíssimas instâncias com que se vê atacado, e a que não pode responder corretamente senão faltando clara, e conhecidamente à verdade, se resolve a dizê-la, como ela é: que é verdade, que se premeditava o levante, que ele … confessa ter sido quem ideou tudo, sem que nenhuma outra pessoa o movesse, nem lhe inspirasse coisa alguma, e que tendo projetado o dito levante, o que fizera desesperado, por ter sido preterido quatro vezes, parecendo a ele …, que tinha sido muito exato no serviço, e que achando-o para as diligências mais arriscadas, para as promoções e aumento de postos achavam os outros, que só podiam campar por mais bonitos, ou por terem comadres …”. (Autos, v.5, p.36)

Em outro ponto da inquirição, insiste que não havia um cabeça, mas assume a responsabilidade de ser o primeiro a falar em conjuração: “que não havia cabeça algum, que o réu …fora sim o primeiro que falara na matéria conversando a respeito da derrama, os mais foram seguindo, e aprovando mas sem nenhum se fazer cabeça e na realidade sempre a coisa ficou como meio feito no ar …”. (Autos, v.5, p.44)

Entretanto, a sua participação surge em quase todos os interrogatórios dos demais envolvidos. A maioria revela um Tiradentes louco, falastrão, leviano, uma pessoa sem maior importância e caráter.

O Coronel Alvarenga Peixoto afirma que o tenente-coronel Freire de Andrada, comandante da Tropa Paga de Minas Gerais, e também conspirador, insistia para que o ouvisse, pois: “fazia gosto que ouvisse ao dito Alferes Joaquim José, só por ver quanto inflamado na matéria, que chegava a chorar…”. (Autos, v.5, p.116) Em outra passagem refere-se a seu aspecto físico: “Neste mesmo dia de tarde, estando … no escritório de João Rodrigues Macedo, lhe apareceu um oficial feio, espantado … “.(Auto, v.5, p.116) Em um encontro entre Alvarenga e o Padre Oliveira Rolim, em que estava presente Tiradentes, após sua retirada, o próprio Alvarenga informa: “o dito padre disse a ele … que aquele rapaz era um herói, que se lhe não dava morrer na ação, contando que ela se fizesse …”. (Autos, v.5, p.121)

O próprio Padre Rolim fala de um outro Tiradentes, muito diferente do suposto “herói” de que nos dá notícia Alvarenga: “… porém como o mesmo alferes disse a ele …, em outra ocasião, que a alguns dizia que entravam várias pessoas a que ele não tinha falado nem sabia que entrassem, por isso ficou na dúvida, e ainda hoje está nela, de que o dito Desembargador entrasse …“. (Autos, v.5, p.348)

O Padre Toledo e Melo, outro envolvido na conspiração, fala de Tiradentes: “… O Alferes Joaquim José da Silva Xavier disse também, que ele queria para si a ação maior, e de maior risco nesta conjuração …”. (Autos, v.5, p.142)

É neste depoimento que aparece um Tiradentes que chama para si a ação de maior risco: ir a Cachoeira de Campo e cortar a cabeça do Governador Visconde de Barbacena.

O Cônego Luís Vieira, grande orador e entusiasta da Revolução Americana de 1776, menciona-o em seu interrogatório, dizendo: “… que o mesmo Alferes – Tiradentes – andava por Vila Rica por casa de várias meretrizes a prometer prêmios para o futuro quando se formasse um República …”. (Autos, v.5, p.243)

É nesse interrogatório que ele surge como um bêbado que vivia nas tabernas e casas de prostituição, prometendo absurdos para as pessoas, após a formação do novo governo. Assim, o Cônego sustenta a tese do louco que não podia ser levado em consideração. Entretanto, os próprios juizes da Devassa desconfiavam que ele tivesse este conceito tão negativo em relação a Tiradentes. O que podemos constatar pelo teor de uma pergunta, que lhe foi feita: “… aí disse que o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, era um homem animoso, e o abonou, e que se houvesse muitos como ele, seria o Brasil uma república florente” (Autos, v.5, p.243)

O depoimento de Vicente Vieira Mota, guarda-livros dos contratos do poderoso comerciante João Rodrigues de Macedo, é cheio de referências a Tiradentes. Para ele, o Alferes era um louco sem limites que falava publicamente sobre liberdade e a República que se pretendia instalar nas Minas Gerais: “… que já era mui público ele andar com aquelas loucuras, e despropósitos tanto naquela Vila, como nesta cidade do Rio de Janeiro … a que ele impaciente tornou, dizendo-lhe, o certo é que já não há homens; porém que havia de armar uma meada tal, que em dez, vinte, ou cem anos se não havia de desembaraçar …” (Autos, v.5, p.406-407)

Ainda para o guarda-livros, até o famoso médico de Vila Rica, Dr. Tomás de Aquino Belo e Freitas o considerava um louco ao falar em liberdade pelas tavernas da cidade: “(…) tanto assim, que em uma ocasião, segundo o seu parecer depois das prisões, o médico Belo, falando-se nas ditas prisões, dissera em sua casa, que o dito Alferes era tão louco, que até pelas tavernas andava falando em República e liberdade de Minas”. (Autos, v.5, p.409-410)

Porém, outros personagens vão se ocupar da figura de Tiradentes de uma maneira diferente, nos legando uma imagem até hoje aceita, e consolidada no nosso imaginário.

São duas narrativas de frades franciscanos que testemunharam os momentos derradeiros dos inconfidentes: “Últimos momentos dos Inconfidentes de 1789, pelo frade que os assistiu em confissão”, de Frei Raimundo da Anunciação Penaforte, que, na província franciscana da Repartição Sul, ocupava o cargo de Custódio da Mesa, de 1792 e “Memórias do êxito que teve a conjuração de Minas e dos fatos relativos a ela acontecidos nesta cidade do Rio de Janeiro desde 17 até 26 de abril de 1792″, atribuída por Tarquínio J.B de Oliveira ao Frei José Carlos de Jesus do Desterro, guardião do convento de Santo Antônio.

Nestes testemunhos/narrativas vislumbramos as primeiras tentativas de formalizar, contemporaneamente, a memória histórica de Tiradentes e da Inconfidência Mineira. Elaboradas segundo o ideal e imaginário cristão, estão repletas, principalmente, de representações histórico-culturais destes autores. Assim, Tiradentes torna-se modelo de cristão, generoso, arrependido, castigado, mas preparado para bem morrer. Segundo Frei Desterro, Tiradentes recebeu sereno e convencido da gravidade de seus pecados a sentença de condenação. Após a leitura do Decreto Régio, sua reação foi de alegria pelos outros réus que receberam o perdão real, e pouco trabalho tiveram seus confessores em seu consolo, pois já estava “humilhado e contrito, exercitando-se em muitos atos das principais virtudes” (Autos, v.9, p.108)

Descreve sua caminhada para a forca, como se fosse o próprio Cristo: beija os pés e perdoa o carrasco; recebe a alva, despe a camisa e fala: “Nosso Senhor morreu nu por meus pecados …”; caminha com o crucifixo na mão, certo de “oferecer a morte como sacrifício a Deus”. (Autos, v.9, p.108)

Também Frei Raimundo Penaforte relata os momentos derradeiros de Tiradentes, descrevendo a cena com o carrasco e a preparação para a execução, traçando, também, seu perfil cristão: “Ligeiramente subiu os degraus; e sem levantar os olhos que sempre conservou pregados no crucifixo, sem estremecimento algum, deu lugar ao carrasco para preparar o que era necessário; e, por três vezes, pediu-lhe para abreviar a execução” (Autos. v.9, p.174)

Assim, os frades franciscanos nos legaram um Tiradentes arrependido de seus pecados e culpa, uma imagem idealizada segundo os princípios cristãos. No final do período monárquico a vida histórica da Inconfidência Mineira é refeita. O acontecimento é acolhido através de novas reconstruções que lhe dão vida e, por sua vez, resgatam os valores presentes, inevitáveis e necessários à perpetuação ou criação do passado histórico.

O marco historiográfico que coloca a Inconfidência Mineira novamente em evidência é o livro do monarquista Joaquim Norberto de Souza e Silva, História da Conjuração Mineira, de 1873. Em um trabalho de fôlego, quando pela primeira vez são utilizados os Autos e outros documentos importantes por ele descoberto, o autor não deixa transparecer que Tiradentes pudesse ser o líder do movimento. Na sua visão, ele não passava de uma pessoa leviana, aliciado pelos ideais libertários de Álvares Maciel. Apesar de considerá-lo tenaz e fogoso, não acreditava que tivesse condições, principalmente por sua falta de caráter, de ser o cabeça da conjuração. Ao contrário, a sua presença era muito mais nefasta do que benéfica para a causa do movimento. Na vida ou na morte, Tiradentes não foi bem acolhido por Joaquim Norberto. Porém, delineia-se em sua obra o mesmo comportamento sereno e cristão traçado pelos frades franciscanos: “dirigiu como um mártir cristão brandas palavras repassadas em unção e de amor ao próximo ao padre que confortava dizendo que morria cheio de prazer”. (SILVA, v.2, p.203)

A sua imagem é propagada, permanecendo o homem cristão resignado e convicto da vida eterna. Porém, não é desta forma que Joaquim Norberto gostaria de vê-lo diante da morte. Para ele, esta não era uma morte digna de um herói, que não deveria morrer arrependido, contrito, humilde e conformado: “Morrera o Tiradentes, não como um grande patriota, com os olhos cravados no povo, tendo nos lábios os sagrados nomes da pátria e da liberdade … mas como cristão preparado há muito tempo pelos sacerdotes”. (SILVA, v.2, p.211)

O historiador José Murilo de Carvalho, em seu livro, A Formação das almas, nos mostra a busca republicana por um herói que representasse um mito de origem. Este foi Tiradentes, herói místico, que Joaquim Norberto delineou com o objetivo de desqualificá-lo por sua postura cristã, acabando por contribuir para sua mitificação. Para Carvalho, o êxito de Tiradentes estava na sua identificação com Cristo, passando pelos mesmos sacrifícios, tocando o sentimento popular. Portanto, os republicanos tomam a dianteira da apropriação de sua memória, uma vez que, segundo Carvalho: “a elaboração de um imaginário é parte da legitimação de qualquer regime político”. (CARVALHO, p.10)

Surge, então, a obra do historiador e pensador cristão, Lúcio José dos Santos, A Inconfidência Mineira – papel de Tiradentes na Inconfidência Mineira, de 1927. Suas idéias coincidem com a forma de pensar dos narradores religiosos do século XVIII. Ele resgata a figura de Tiradentes, colocando-o como o grande líder da Inconfidência Mineira. Assim, para Lúcio dos Santos, a grande lição histórica da Inconfidência foi a prova que Tiradentes deixou de dedicação religiosa e de sacrifício. Acreditava que “quem é incapaz de sacrifício, é incapaz de amar, é incapaz de patriotismo”. (SANTOS, p.29)

A tentativa de deixar para os futuros leitores a imagem de mártir em sintonia com os ideais religiosos não foi em vão. Os resultados, encontramos na própria historiografia da Inconfidência, no Tiradentes dos monumentos e obras de arte e finalmente como parte do nosso imaginário mítico. O movimento sobrevive no tempo. As obras historiográficas, que utilizam os Autos e as narrativas como fonte histórica, constituíram a sobrevida necessária para que a Inconfidência Mineira não permanecesse no esquecimento.

Vários cronistas, estudiosos, historiadores, poetas e compositores escreveram sobre Tiradentes e seu ideal de liberdade: Cecília Meireles, no Romanceiro da Inconfidência, exalta o “animoso Alferes” (p.79), o historiador Francisco Iglésias falou da generosidade e do símbolo do homem livre, “com o sentido de dignidade da pátria e do cidadão” (Minas de Liberdade, p.25); para o compositor Fernando Brant, o corpo espalhado em quatro cantos “são sonhos que nos alimentam de vida e de esperança” (Idem, p.31); o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, diz que “o sonho de liberdade não morre, mesmo quando esquartejada, e que o futuro tem gosto de Tiradentes” (Idem, p.39); o escritor e jornalista Zuenir Ventura, com os olhos no presente, afirma ” que hoje ele não se conformaria: iria lutar também pela cidadania – ainda que tardia” (Idem, p.63), e o cronista e romancista Otto Lara Resende fala com intimidade de um rapaz meio maluco e sonhador: “A chama que ele acendeu não pode se apagar, mas sempre corre perigo. A utopia do Tiradentes continua por isso atualíssima. Ela cabe numa palavra – Liberdade”. (Idem, p.91)

O brasilianista Kenneth Maxwell, em seu livro A Devassa da Devassa sugere que Tiradentes foi o bode expiatório escolhido pelas autoridades portuguesas: “Não era influente, não tinha importantes ligações de família, era um solteirão que passava a maior parte de sua vida à sombra de protetores mais ricos e bem-sucedidos”. (MAXWELL, p.215-216) Para ele Tiradentes era um homem cheio de ressentimentos, ambicioso, lutando por uma ascensão social dentro da estrutura implantada pela coroa portuguesa. Assim, afirma que: “Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes representava para o governo português: pouca gente levaria a sério um movimento chefiado por um simples Tiradentes…”. (MAXWELL, p.216)

Resta-nos a pergunta: Afinal, quem foi Tiradentes? Apesar de tudo que se tem escrito e falado, sabemos muito pouco de sua vida. Ainda estamos presos aos Autos – o documento-monumento montado pelo poder e saber de uma época – para levantarmos algumas hipóteses em relação a sua figura e ao seu papel na Inconfidência Mineira.

Possivelmente, sua função fosse a de atrair e seduzir novos elementos para o levante. Era o aliciador que circulava por todos os lugares e no meio do povo. Ele próprio em um de seus interrogatórios nos fornece uma pista: “Em conseqüência do ajuste. De que ele … capacitasse, e seduzisse as pessoas que pudesse, para entrar na sublevação, e motim, procurou ele …falar a algumas pessoas, usando da arte, que lhe parecia necessária conforme caracteres delas, e aproveitando as ocasiões, que se lhe ofereciam para isso …”. (Autos, v.5, p.37-38)

Além do mais, vários dos envolvidos na conspiração declararam que foram convidados por ele para tomarem parte na sedição que se preparava. O tenente coronel Francisco de Paula Freire de Andrada afirma: “Que a primeira pessoa que lhe falou na matéria do levante, e conjuração, que se premeditava fazer na Capitania de Minas Gerais, foi o Alferes Joaquim José da Silva Xavier…”. (Auto, v.5, p.180) José Álvares de Maciel, jovem estudante que acabara de chegar da Europa cheio de idéias novas, diz “… que a primeira vez que ouviu a má proposição, de que a Capitania de Minas Gerais havia de ser independente e livre, foi ao Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha – o Tiradentes – …”. (Autos, v.5, p.327) O Padre Manuel Rodrigues da Costa, também, revela suas conversações com o Alferes: “…se lembra que o mesmo alferes lhe falou em que havia de falar a alguns soldados, e oficiais para aquilo mesmo”. (Autos, v.5, p. 490)

Sabemos que a maioria dos indiciados tentou incriminá-lo. Se foi Tiradentes o cabeça da conjuração, não se pode afirmar com certeza. Porém, por força de ofício, sabemos que ele circulou com bastante desenvoltura e, por onde passava, exercendo a arte de falar, propagava a conjuração. Contudo, sua imagem foi cuidadosamente e deliberadamente trabalhada pelos frades franciscanos e, mais tarde, apropriada pelos republicanos em busca da legitimação do novo regime. O resto ficou por conta da historiografia, dos políticos, dos poetas, dos cronistas, dos romancistas, dos artistas, dos estudiosos, enfim, das paixões humanas, que o transformaram em mito de origem do nosso ideal de liberdade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AUTOS DE DEVASSA da Inconfidência Mineira. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas Gerais, v. 1-9, 1976.
CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Cia da Letras, 1990.
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984.v.1. p.103.
MAXWEEL, Kenneth. A devassa da Devassa – A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808. 3ª ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
MINAS de Liberdade. Belo Horizonte: Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais/Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, 1992.
SANTOS, Lúcio José dos. A inconfidência Mineira: Papel de Tiradentes na Inconfidência Mineira. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972.
SILVA, Joaquim Norberto de Souza. História da Conjuração Mineira. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948.


Curriculum Vitae resumido
Sérgio Vaz Alkmim – Professor de História da Rede Municipal de Contagem, Pesquisador e Economista, Pós-graduado em Administração Financeira pela UNA e Pós-graduado em Novas Tecnologia em Educação e Treinamento pela UNI/BH. Foi Secretário Executivo do Projeto PROCERA/LUMIAR/INCRA – Programa de Crédito Agrícola e Assistência Técnica aos Projetos de Assentamento de Reforma Agrária. Publicou, entre outras, a monografia Inconfidência Mineira: a vida histórica do acontecimento, Revista do tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, Ano XIV, N.º 4, 1996 e o artigo Tiradentes: a origem do mito e o mito de origem, Jornal Estado de Minas. Opinião. Belo Horizonte, 21/04/1997, p.7. Pesquisador da história política de Minas Gerais, sendo Coordenador da biografia política do governador Ozanam Coelho, no Prelo e do Presidente do Estado João Pinheiro.
E-mail: alkmim@gold.com.br

Fonte: Tratos Culturais

Disponível em http://visaoglobal.org/2008/04/24/a-construo-de-um-mito-afinal-quem-foi-o-tiradentes/ em 22 de Abril de 2015 22h