Este blog foi criado com a pretensão de despertar nas pessoas, o compromisso, o respeito e os valores éticos e morais na diversidade. É necessário refletir sobre esses valores, para que as diferenças sejam respeitadas cada vez mais e a convivência aconteça de forma verdadeiramente democrática.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
O papel do negro na sociedade atual e no futuro do país
Luciano Cerqueira é pesquisador do Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (IBASE) e um dos coordenadores da campanha Onde você guarda o seu racismo? A seguir, ele fala sobre a situação do negro no Brasil em diversos setores e relata como debates e conscientização podem mudar este quadro.
Portal Cidadania Embraer - Como o racismo acontece no Brasil?
Luciano Cerqueira - No Brasil, na maioria das vezes em que se observa o racismo, é por meio de gestos, piadas, olhares e atitudes. Nas últimas décadas, poucas vezes, tirando a agressividade com que os policiais tratam os jovens negros, tivemos casos de agressão a pessoas negras e que poderiam ser classificados como racismo. Contudo, pessoas são barradas em elevadores, passam constrangimento nas portas giratórias dos bancos, são paradas pela polícia, são consideradas incapazes por não serem brancas. Isso não é violento, mas é racismo.
Portal Cidadania Embraer - As mulheres negras são as maiores vítimas?
Luciano Cerqueira - Sim. Segundo pesquisa realizada pela UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) e pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os dados não deixam dúvidas quanto à situação da mulher negra no Brasil. Nesta publicação, que faz parte do Programa de Igualdade de Gênero e Raça, estão reunidos um conjunto de indicadores sobre as desigualdades de gênero e raça no Brasil. Podemos destacar os seguintes dados: enquanto 28,73% das mulheres brancas nunca fizeram exame clínico de mama, entre as mulheres negras, a percentagem é de 46,27%. Outro indicador dessa desigualdade entre raças é a média de renda da ocupação principal: as mulheres brancas recebem, em média, R$ 554,60; já as mulheres negras recebem R$ 279,70.
Portal Cidadania Embraer - O que a pessoa vítima de preconceito racial deve fazer?
Luciano Cerqueira - Ela deve ir direto à delegacia e dar queixa do ocorrido ao delegado, que deve registrar como crime de racismo, que é inafiançável. Mas, como no Brasil ainda se tem resistência em registrar este tipo de atitude como crime de racismo (esta dificuldade tem relação com a crença na democracia racial que supostamente existe no Brasil), é recomendável que a pessoa procure uma entidade que trabalhe na defesa dos direitos humanos e de combate ao racismo.
Portal Cidadania Embraer - Cite algumas instituições com trabalho reconhecido em inclusão racial.
Luciano Cerqueira - O Ibase, a ONG carioca Criola, o Centro de Democratização da Informática (CDI), A Associação Beneficente São Martinho, entre outras.
Portal Cidadania Embraer - Qual a ligação entre o preconceito racial e os problemas sociais?
Luciano Cerqueira - Ela é bastante expressiva. Vejamos o exemplo do mercado de trabalho. Se observarmos onde se situam os negros no mercado de trabalho, a partir dos dados de posição na ocupação, fica claro que estes se concentram em atividades mais precárias e com menor proteção social do que a população branca. Enquanto 34,5% dos brancos estão em ocupações com carteira assinada, apenas 25,6% dos negros estão na mesma situação. De forma semelhante, 5,9% dos brancos são empregadores, apenas 2,3% dos negros o são. No outro extremo, 22,4% de negros concentrados em atividades sem carteira assinada e apenas 16,2% dos brancos em mesma posição.
Portal Cidadania Embraer - Mas não é só na questão de trabalho, né?
Luciano Cerqueira - Não. Na saúde também os dados são alarmantes, principalmente para as mulheres negras. As negras têm menor acesso à educação e são inseridas nas posições menos qualificadas do mercado de trabalho. Estas condições se refletem na ausência de informações e conhecimento sobre o acesso aos serviços de saúde, por exemplo, ao exame clínico de mamas, que é um exame preventivo de extrema importância para detecção precoce do câncer de mama. Os dados informam que mais da metade das mulheres negras, com 40 anos ou mais de idade, em regiões como norte e nordeste, nunca realizou este exame.
Portal Cidadania Embraer - O racismo no Brasil é realmente velado?
Luciano Cerqueira - Sim. Hoje não é socialmente aceitável uma pessoa se dizer racista ou ter atitudes que deixem claro esse sentimento. Então o que as pessoas fazem? Disfarçam esse sentimento. Elas não dizem que aquele emprego oferecido é só para brancos, mas elas pedem “boa aparência”. E aí sabemos quem são as pessoas de boa aparência. Ninguém sai por aí dizendo em alto e bom tom que todo negro é ladrão, mas a polícia pára todos os homens negros em uma blitz. E as pessoas que assitem a uma cena dessas acham isso normal, que não tem nada demais parar todos os negros e revistá-los, pois os policiais só estão zelando pela segurança da comunidade. Não é preciso dizer que é racista, é só nós prestarmos atenção nas atitudes.
Portal Cidadania Embraer - Por que fazer uma campanha para estimular o debate sobre o racismo?
Luciano Cerqueira - É preciso acabar, de uma vez por todas, com essa idéia de que o Brasil vive numa democracia racial. É mentira e muitas pessoas sabem disso, mas outras não. Por isso resolvemos falar de racismo, precisamos fazer com que as pessoas deixem de acreditar que o racismo não existe no Brasil, e deixem de lado suas atitudes racistas, que, em muitos casos, já estão incorporadas no nosso cotidiano. Quando lançamos a campanha com a pergunta Onde você guarda seu racismo?, partimos do princípio de que todos nós somos racistas e em alguns momentos acabamos por manifestar este sentimento. Precisamos fazer as pessoas entenderem que, enquanto uma parte da população não puder usufruir dos seus direitos, não poderemos dizer que vivemos em um país livre e democrático.
Portal Cidadania Embraer - Faça um balanço da campanha Onde você guarda seu racismo? desde o início e diga quais os projetos para o futuro.
Luciano Cerqueira - A campanha tem uma ótima aceitação nos meios de comunicação e com o público em geral. Nestes 12 meses de campanha, o nosso site Dialogos contra o Racismo recebeu milhares de visitas de pessoas que queriam mais informações sobre racismo, outras para nos criticar dizendo que nós estávamos fomentando o racismo, outras queriam contar casos em que são vítimas, muitas pessoas nos elogiando pela iniciativa. Tivemos também um número grande de adesões de organizações que queriam se juntar à campanha e fazer parte desta luta. Hoje, graças a alguns destes parceiros, a campanha está em todo o país. Estamos na fase final de elaboração e criação de novos vídeos, spots de rádio, panfletos e cartazes, que devem começar a ser distribuídos no início de 2006. Vamos tentar manter a campanha atuante com a mesma qualidade do primeiro ano
Portal Cidadania Embraer - Onde você guarda seu racismo?
Luciano Cerqueira - Com o passar dos anos, fui aprendendo que muito do que ouvi na minha infância e durante a adolescência era mentira. Mas mesmo depois de tantos anos e de uma luta interna muito grande, ainda fico com medo quando estou andando à noite e vejo um homem negro. Isso é um misto de medo da violência com racismo. Tenho que me livrar desse sentimento e a campanha está me ajudando a jogá-lo fora.
http://www.cidadaniaembraer.org.br/site/pagina.php?idconteudo=175
3 comentários:
Fala sério cara!!!
Esse é o melhor professor que um aluno pode ter!!!
o Anísio não seria o mesmo nas aulas de história e geografia sem esse cara nota 1000...hehe
abraçs querido professor
de seu fã número 1 Eliasss ^^
Anônimo disse...Obrigado pelo comentário elogioso! Vc que é um cara muito legal merece tudo de bom que a vida puder lhe dar!
Grande abraço!
Sílvio
concordo naum se axa mais professor igual a esse, sinto falta das explicações nitidas e detalhadas!
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